Como montar uma carteira de investimentos fatorial
Pare de chutar e entenda de uma vez por todas a razão da composição do seu portfólio.
Qual a semelhança entre a Magic Formula, de Joel Greenblatt, e o Low Risk, de Van Vliet? Ambas são estratégias fatoriais que prometem bater o benchmark sem muito esforço. Hoje eu gostaria de explorar como podemos construir em cima da base criada por esses dois investidores renomados.
Todo investidor inexperiente passa pela fase de sair comprando ações sem entender muito o porquê. “Está barato”, é provavelmente a frase mais comum. Não faltam razões para comprar qualquer ação – afinal, estamos falando das top performers, a seleção natural das empresas de um determinado país, qualquer uma delas terá uma história no mínimo convincente.
Também é recorrente para o iniciante o tema da diversificação. Quantas empresas comprar? Você certamente não irá colocar todos seus ovos no mesmo cesto, não é mesmo? E assim se forma a realidade de muitos investidores: uma carteira cheia de ações onde ele tem apenas uma vaga ideia do porquê estão lá.
Essa estratégia pode funcionar em momentos de alta e euforia, quando tudo sobe e sobe em bloco. Mas basta a primeira crise surgir intrépida no horizonte para aquele investidor começar a panicar. Vender? Comprar? Em 99% dos casos ele termina vendendo o que caiu menos e comprando o que caiu mais. Rookie mistake…
A realidade nua e crua é que a maioria esmagadora dos investidores não tem tempo, capacidade ou vontade de acompanhar o mercado de modo a estar constantemente analisando balanços, geopolítica, política interna, e ainda estar de olho em oportunidades que surgem. Por isso, delegar essa árdua tarefa a investidores profissionais, como fundos de investimento, parece uma boa ideia.
O problema é que os incentivos dos investidores institucionais nem sempre conversam com a nossa própria definição de risco, como explicitado em E se o segredo para ganhar mais fosse… arriscar menos?
Popularmente, entendemos o risco de um investimento como a chance dele não dar certo, ou seja, de que percamos total ou parcialmente o valor investido. A grande tragédia é, no entanto, que a indústria financeira não avalia risco dessa forma. Para eles, risco significa perder do benchmark.
É famosa a aposta do bom e velho Warren Buffet de que em 10 anos o retorno médio dos hedge funds americanos não bateria o S&P 500. O velhinho venceu.
Como alternativa para esse problema, muitos investidores são atraídos por ETFs. Esses fundos de gestão passiva, além de cobrarem taxas muito menores, trazem a tranquilidade da diversificação e abstraem do investidor a ansiedade de se construir uma carteira do zero. Por exemplo, o ETF SPLV busca justamente replicar uma estratégia de baixa volatilidade como a proposta por Van Vliet em High Returns from Low Risk.
E se o segredo para ganhar mais fosse... arriscar menos?
"Quanto maior o risco, maior o retorno", é uma frase que todos nós já ouvimos. Mas ofereço-lhes outra, com um tempero brasileiro: "devagar com o andor que o santo é de barro". Qual delas é verdadeira?
No entanto, nem mesmo os ETFs são a tábua de salvação de todos os investidores. Em primeiro lugar, e especialmente no Brasil, a oferta de fundos desse tipo ou é muito escassa ou possui baixíssimo volume. Em segundo lugar, nem sempre o ETF vai ter a composição exata que desejamos.
Por exemplo, Joel Greenblatt concluiu, depois de muito estudo, que um ranking composto pelos indicadores EV/EBIT e ROIC, aplicados nos Estados Unidos e com rebalanceamento anual, apresentava uma rentabilidade surpreendente. Similar estudo, mas unindo dividend yield e momentum, aplicados nos ativos menos voláteis da bolsa americana, apresentou um retorno de 15% a.a. por mais de 80 anos!
Parece então ser uma ótima ideia buscar essas combinações, esses fatores que geram rankings de ativos que possam ser utilizados para compor uma carteira equilibrada e diversificada. Mas como fazê-lo?
Essa é justamente a missão de uma nova funcionalidade do QuantBrasil, o Ranking Fatorial. No vídeo abaixo eu explico em detalhes o funcionamento da ferramenta:
Agora é possível combinar diversos indicadores para gerar o seu próprio ranking, unindo critérios fundamentalistas (como a Magic Formula), com momentum (retorno em diversas janelas, como o Momentum Double), e o beta (como o Low Risk). Assim, o investidor pode montar uma carteira de forma objetiva, entendendo o porquê da composição e podendo essencialmente montar o seu próprio ETF, sem pagar taxa alguma ou depender da boa vontade dos players do mercado.
Por exemplo, é possível conceber um ranking que una qualidade, momentum e volatilidade como:
Maior dividendo yield;
Maior ROE (Return on Equity);
Maior momentum no último ano (peso 2);
Menor volatilidade (beta nos últimos 2 anos).
Selecionando os 5 primeiros nesses critérios, combinando suas posições em cada fator, teríamos, no momento que escrevo este post, STBP3, MRFG3, JBSS3, BBSE3 e FICT3. Eis uma carteira diversificada, que passa tranquilidade ao investidor, e pode ser rebalanceada periodicamente.
A diversificação, inclusive, foi a grande lição da análise quantitativa de uma carteira de dividendos feita em um artigo anterior. Na ocasião, fizemos o backtest de uma carteira com 10 ativos. Desses, 7 ações underperformaram a carteira. Mas no agregado, a rentabilidade foi bem superior ao IBOV, sem o risco de um stock picking mal sucedido, ou de não ter a paciência de esperar um case difícil maturar.
Como implementar uma carteira quantitativa focada em dividendos
Poucas coisas populam mais o imaginário do investidor brasileiro do que dividendos. De fato, ativos que pagam dividendos tendem a ser mais estáveis. A lógica é simples: se está sobrando dinheiro para ser repartido entre os acionistas, então a operação tem sido bem-sucedida.
Essa é a principal razão pela qual fui atraído pelas finanças quantitativas. Gosto de ter controle sobre as minhas decisões, ainda que para isso precise deixar de lado investir no ativo do momento, ou ignorar notícias de mercado. E com o Ranking Fatorial, tudo que preciso fazer é focar no estudo e composição desses fatores. Depois, a parte mais difícil é simplesmente a disciplina de seguir o plano.
O ranking fatorial, assim como as carteiras quantitativas (que permitem o backtest de estratégias fatoriais), estão disponíveis de forma ilimitada para os assinantes Premium do QuantBrasil. Considere criar sua conta e investir de forma tranquila, sabendo que a matemática está do seu lado.