3 conselhos práticos para crescer na carreira como programador
O que eu sugiro a todos que estão começando.
Recebo com certa frequência perguntas de amigos e conhecidos sobre como iniciar ou se destacar na carreira de tecnologia. Nesses mais de 12 anos como profissional da área, já respondi essa pergunta tantas vezes que decidi condensar minhas sugestões em três dicas principais.
Obviamente não pretendo ser dono da razão e não tenho dúvidas de que existem outras formas – mas falarei aqui o que deu certo para mim e para aqueles que assessorei, portanto tome essas sugestões com pontos de partida, não guias definitivos.
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Antes de mais nada, por que você deveria me ouvir? Julgo importante esse rápido preâmbulo para que você entenda que faz parte da minha carreira identificar bons programadores. Isso pois minha atividade principal é ser Engineering Manager de uma empresa 100% remota cuja sede é nos Estados Unidos, o que significa que uma de minhas funções é contratar.
Além disso, sou formado na área (Engenharia da Computação na UFRJ em 2015, hoje um dos cursos mais concorridos do Brasil, com pouquíssimas vagas por ano), fiz intercâmbio na Austrália (estudei Software Engineering na University of Melbourne), e trabalho remotamente para os EUA desde 2017. Portanto, o que direi aqui é, de certa forma, o que me ajudou a desenvolver minha carreira, e espero que seja útil para desenvolver a sua.
A importância do portfólio
A primeira dica é também a mais importante: é imprescindível que você tenha projetos para mostrar. Principalmente se o objetivo for trabalhar remotamente, essa é a primeira coisa que os recrutadores irão olhar. Você consegue provar que sabe o que diz que sabe?
Quando olho o currículo de alguém, considero uma red flag quando vejo uma lista de 20 linguagens de programação, frameworks e bibliotecas. Ninguém sabe tudo isso, pelo menos não com a profundidade necessária para um emprego. Quando vejo um currículo onde se pleiteia saber Java, Python, Scala, Go, C++, Ruby e Go, automaticamente assumo que essa pessoa não sabe nenhuma dessas linguagens bem o suficiente.
Portanto, a forma de se defender disso é mostrar um projeto, algo palpável que exista na realidade, por mais simples que seja. Tenha um site pessoal e coloque todos seus projetos lá: um simples web app que resolve um problema relevante para você, um Jupyter Notebook com análises de dados que mostrem que você é interessado em data science, uma CLI criada em Rust que retorna o próximo jogo do seu time favorito, etc. A ideia aqui não é fazer algo revolucionário, mas indicar que você tem familiaridade e interesse com a tecnologia.
Aliás, eis um ponto crucial: quão interessado você é na área? Você sente o tesão necessário para se sentar confortavelmente num sábado, abrir o computador e começar a brincar com ferramentas que nunca utilizou, simplesmente pelo prazer de aprender algo novo? É muito comum vermos pessoas que desejam trabalhar com tecnologia pela liberdade que a profissão promete: trabalho remoto, salários em dólar... mas se você buscar a área somente por essas benesses, provavelmente terminará frustrado e sem nenhuma delas.
Uma anedota: quando comecei a programar na faculdade, a maior parte dos projetos era low level, sistemas embarcados, daquele tipo que se faz com C ou C++. Aquilo nunca me atraiu; eu gostava de criar interfaces, de ter algo que eu pudesse mostrar para minha mãe e dizer: "olha, eu criei isso! Aperte esse botão que ele vai fazer X!".
Decidi então aprender desenvolvimento web, e comprei dois livros: um de JavaScript e outro de AJAX (os mais novos nem sabem o que é isso...). Com esse material, criei um mini-app que servia para registrar textos que escrevia e quanto receberia por eles (como se vê, escrever na Internet é um hábito antigo). Mal havia finalizado o projeto me deparei com uma vaga para desenvolvedor web. Apliquei e, na entrevista, mostrei o que havia feito. Aquele mini-app, que poderia tranquilamente ter sido uma planilha, foi a prova cabal do meu interesse pela área e a razão pela qual consegui meu primeiro emprego como programador.
Portanto, se você quer chamar atenção de recrutadores e passar confiança em entrevistas, comece a montar um portfólio para ontem.
Mantenha um blog
Essa sugestão pode soar um pouco estranha em pleno 2025, mas uma vez que você está lendo esse texto, provavelmente irá entender. Eu quero escrever exclusivamente sobre esse assunto, pois julgo ter muito a falar, mas hoje me limitarei aos pontos principais.
Em primeiro lugar, a escrita é um exercício de aprendizado. Muitas vezes temos os pensamentos desordenados e somente o ato consciente de organizá-los para explicar um assunto é capaz de desanuviar nossa mente. Assim, escrever vai te ajudar a ter uma compreensão melhor da sua área.
Em segundo lugar, escrever também é uma forma de constituir um portfólio. Isso pois escrevendo você também mostra que sabe de algo, ainda que esse algo seja simples. Se eu desejo uma vaga de React e um recrutador percebe que falo regularmente sobre esse assunto, ele automaticamente me passa nesse filtro.
Outra anedota: consegui meu primeiro emprego remoto nos EUA após ser abordado por conta de um post no meu blog. Sempre escrevi em inglês (não se engane, meu inglês era no máximo mediano), e isso serviu como porta de entrada para a carreira que tenho hoje.
Por fim, a escrita é um ato temporal. Isso significa que você consegue comprovar um certo grau de senioridade ao mostrar que você já fala sobre um determinado assunto há anos. Por exemplo, meu primeiro post sobre React foi em 2015. Nada do que eu disse há 10 anos é relevante hoje, mas ninguém pode negar que eu estudo o assunto por todo esse período. "Ah Rafael, mas eu estou somente começando..." – faça então um favor para o seu eu do futuro e comece a escrever desde já.
Aprenda a lidar com a Inteligência Artificial
Não adianta espernear, pode dizer que é só hype, mas a caixa de Pandora da Inteligência Artificial foi aberta e o que saiu dali não retornará mais. Todo CEO no planeta Terra quer duas coisas: cortar gastos e aumentar a eficiência, e as ferramentas de IA prometem justamente isso (evidentemente nem todas são bem-sucedidas).
Portanto, aprenda o quanto antes como utilizar essas ferramentas no seu dia a dia. Como hiring manager, confesso ser uma época de transição: antigamente minha forma favorita de contratar era passar um pequeno projeto, de escopo reduzido, para que o candidato fizesse em casa, sem pressão. Hoje, com o advento de ferramentas como Cursor, Claude Code e Windsurf, 99% dos projetos dessa forma seriam implementados de forma trivial com alguns poucos prompts.
Sendo assim, o programador moderno precisa saber utilizar essas ferramentas como potencializadoras. Evidentemente, não podem ser completas substitutas do julgamento humano (assunto inclusive que discuti em A Inteligência Artificial está nos tornando programadores piores?). Não seja infantil de desmerecer esse novo paradigma de programação. Por trás do hype e dos exageros (estamos na Internet, o que você imaginava que iria acontecer?), existem profissionais e pessoas sérias utilizando IA corriqueiramente.
Para finalizar com uma última anedota, na minha empresa atual muito trabalho que era anteriormente feito de forma manual hoje é automatizado com as IAs. Inclusive, não é incomum que nossa conta na OpenAI supere os dez mil dólares mensais. Pense que isso certamente gera uma economia ainda maior para a empresa.
Conclusão
Espero que você perceba esse post com a mesma intenção que procurei escrevê-lo: não como um guia infalível, mas como um apanhado de aprendizados de alguém que trabalha com tecnologia há anos, e que mantém um profundo interesse pela área e seus desenvolvimentos.
Posso garantir que tudo que está aqui deu certo para mim e para pessoas próximas que me pediram conselho. Isso não te impede de criar seu próprio caminho – o importante é achar o que te mantenha motivado, pois escolhemos uma área cujo desenvolvimento é frenético, o que pode tornar tudo tanto exciting quanto overwhelming.